190 anos do nascimento de Marx



Na pagina Nacional da UJS saiu um texto em homenagem aos 190 anos do nascimento de Karl Marx, estou trazendo para o Blog com um dia de atraso, mas não podíamos deixar passar, afinal se trata do maior referencial teórico da UJS e como afirma o texto a seguir 'pai do Socialismo Científico'.


No dia 05 de maio de 1818 nascia Karl Heinrich Marx. Há 190 anos a cidade de Tréveris na Alemanha, transformava-se em berço do economista, fundador dos ideais sociológicos e "pai do comunismo".
E foi no final da década de 40 do século XIX, Marx e Friedrich Engels tornaram-se os representantes das posições políticas e teóricas do proletariado e a partir daí fundaram uma nova ciência, o marxismo. Por meio da publicação do Manifesto Comunista, em fevereiro de 1848, os ideais da teoria da luta de classes e do papel revolucionário do proletariado tomaram grande proporção principalmente na demonstração de como o modelo econômico conhecido por capitalismo é falido.
Resumo - A construção do Homem no Jovem Marx (capítulo I)
Por Augusto Buonicore

Em fins da década de 1960 o problema do humanismo passou a ser o centro de acaloradas discussões no interior do marxismo. Nesse confronto de idéias podemos distinguir duas grandes correntes, dois grandes partidos teóricos. De um lado aqueles que, como Garaudy, acreditavam que o humanismo marxista (ou socialista)era o fruto de uma evolução natural, e necessária, do humanismo clássico – um humanismo sob novas condições históricas. De outro, os que, como Altusser, se recusavam a estabelecer qualquer ponto de contato entre o humanismo (enquanto construção ideológica da burguesia) e o marxismo (enquanto visão científica de mundo, e não ideológica).
A resolução desse intricado problema passava, necessariamente, pela compreensão de outros problemas não menos intrincados: que papel desempenham as obras da juventude no conjunto da construção teórica de Marx? O que era negado e o que era mantido das obras posteriores? Até que ponto Marx acertou suas contas com seu passado juvenil?
Diante dessas questões formaram-se, novamente, dois blocos. O primeiro buscava ver uma solução de continuidade, mais ou menos acentuada, entre o jovem Marx e o Marx maduro das obras clássicas – seja vendo o "velho" Marx soba a ótica jovem, seja vedo o jovem Marx e suas obras sob o poto de vista do marxismo amadurecido. O segundo propunha um corte, uma ruptura radical, entre as obras da juventude e as da maturidade, construindo entre elas uma verdadeira muralha da China.
O objetivo deste ensaio é penetrar um pouco nesse debate e para isso me vi obrigado a voltar minhas atenções para a leitura das chamadas obras da juventude. Era preciso ir às fontes. Não poderia assim ficar reduzido ao estudo dos autores contemporâneos e suas leituras das obras do Marx. Era preciso ter as minhas próprias experiências, minhas próprias leituras e opiniões, não importando a originalidade das conclusões a que chegasse, com tanto que chegasse a algumas conclusões. E foi, justamente, a leitura do conjunto de obras da juventude, pelo menos no que elas têm de mais significativo, que me permitiu traçar um perfil, ainda que provisório, do desenvolvimento teórico de Marx, e em particular do desenvolvimento do humanismo.l
Partindo de um Marx idealista e liberal, embora revolucionário, em cuja obra o Homem ainda era visto como uma individualidade isolada do mundo, passando por um Marx cuja visão do Homem já era social, embora ainda preso a uma essência em geral, chegamos finalmente ao período de amadurecimento de sua compreensão, quando Marx passa a enxergar o Homem não mais como um ser abstrato com uma essência em geral, mas como um ser concreto, historicamente determinado. Essa trajetória criou as bases de um novo humanismo, um humanismo de classe, proletário, que começou a surgir, embrionariamente, nos Anais Franco-Alemães e se consolidou nos manuscritos econômicos e filosóficos.
Este caminho trilhado por Marx, do ponto de vista de sua construção teórica, nem sempre foi um caminho tranquilo, sem tensões. Pelo contrário, foi um caminho por vezes conturbado, quesó poderá ser plenamente compreendido se ao processo de formação teórica sobrepusermos o estudo de sua vida, de suas influências e, principalmente, de sua ligação orgânica e militante com o jovem movimento operário de sua época que tanto lhe impressionava e do qual acabou por se constituir no principal teórico e dirigente.
Os primeiros anos da vida de Marx transcorreram em meio às agitações políticas desencadeadas pela Revolução Francesa. Um período política e socialmente rico, no qual os abomináveis princípios franceses ganhavam o mundo – pela vida dos propagandistas revolucionários ou pelas botas dos exércitos napoleônicos. A própria província Renana, onde se encontrava Triers natal de Marx, foi anexada à França entre 1794 e 1815.
A derrota de Napoleão abriu uma nova época. Um fantasma desceu sobre a Europa – o fantasma da Santa Aliança, uma coligação reacionária chefiada pela Rússia tzarista.
Essa e muitas outras situações influenciariam o jovem Marx. Infiltravam-se nele idéias mais avançadas do seu tempo: o revolucionarismo francês e o humanismo radical. Sem dúvida, a primeira grande influência foi exercida por seu próprio pai, Henrich Marx. Os primeiros estudos de Marx foram feitos no Liceu de Triers, onde também se podia sentir as influências das idéias liberais, através de professores. Desde cedo, em trabalhos escolares podia-se sentir esta influência.
Depois Marx seguiu para a universidade de Bonn e matriculou-se no curso de direito, porém pouco a pouco ele foi "arrastado" para a vida agitada e boêmia dos estudantes e acabou sendo eleito presidente de uma de suas associações. Aderiu à União dos Jovens Escritores e depois de algum tempo pediu transferência para a austera Universidade de Berlim. Na nova universidade entrou em contato com os jovens hegelianos e acabou, definitivamente, desviando suas atenções da ciência prática para uma ciência não prática.
E foi a partir deste clima que nasceu a primeira obra de Marx, a sua tese de doutoramento intitulada Diferenças entre as filosofias da natureza de Epicuro e Demócrito .
Esta tese era fruto do ambiente efervescente das universidades alemãs e do convívio profícuo com os "jovens hegelianos". Também neste período Marx estava impregnado das idéias dos revolucionários franceses que buscavam liberdade no indivíduo e não no social.
A filosofia de Epicuro instrumentalizou Marx num período em que ele e todos os jovens hegelianos, voltavam suas atenções para a crítica da religião e para o estudo das obras de Strass, Bauer e dos radicais Hess e Ruge.
Augusto Buonicore é historiador e mestre em Ciência Política pela Unicamp.

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