Lula cobra explicação para 4° Frota de Intervenção

O presidente Lula cobrou ontem do governo Bush, no encerramento da 35ª Cúpula do Mercosul, em San Miguel de Tucumán (Argentina), uma explicação convincente sobre a reativação da 4ª Frota de Intervenção dos Estados Unidos, que deve começar a patrulhar águas sul-americanas no próximo dia 12. O chanceler Celso Amorim aguarda uma resposta da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, acerca da questão.
“Descobrimos petróleo a 300 quilômetros da nossa costa marítima. Qual é a lógica dessa 4ª frota se vivemos numa região pacífica? Nossa única guerra é contra a fome e a pobreza”, salientou o presidente brasileiro.
Lula somou sua voz à do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o primeiro a levantar a questão durante a cúpula (*). “Qual é a razão para que nos enviem essa tropa?”, questionou o líder da revolução bolivariana. “Não vão admitir que seja pelos recursos naturais da região. Não tenho dúvidas de que é uma ameaça e precisamos que alguém nos explique o porquê”, acrescentou.
Analistas com espírito crítico acreditam que as explicações oficiosas do império não são convincentes e traduzem pretextos parecidos com os que foram usados para justificar a guerra imperialista contra o Iraque em 2003. Para quem não se lembra, cabe recordar que à época o presidente Bush e seus prepostos juraram que o país árabe, então governado por Sadam Hussein, tinha produzido um grande arsenal de armas de destruição em massa e financiava o terrorismo.
As duas mentiras foram desmascaradas pela história, mas convém rememorá-las ao investigar os reais motivos que estão por trás desta atitude imperialista, que causou desconforto no Mercosul e se revela francamente hostil aos povos e nações latino-americanas. A 4ª Frota foi criada em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, para combater submarinos da Alemanha nazista. Em 1950 já tinha perdido o sentido e foi desativada. É considerado um instrumental de guerra tão poderoso quanto a 5ª Frota estacionada no explosivo Golfo Pérsico.
Amazônia
O presidente venezuelano citou reportagem feita pelo jornal argentino “Clarín” com especialistas em segurança internacional cuja conclusão é de que a iniciativa do governo Bush é, na realidade, um recado belicista e intimidante aos governos progressistas que foram eleitos em países como Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Paraguai, entre outros. Recentemente ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, também externou opinião semelhante.
Chávez alertou para o fato de que “a frota do império” pode cercar a América do Sul pelo mar e navios de guerra também poderiam entrar na região pelos rios Amazonas, da Prata (indo até o Paraná) e Orinoco, as principais vias fluviais da região. A Amazônia muito provavelmente é um dos alvos eleitos pelos EUA. Não será preciso muito esforço intelectual para entender que a reativação da frota está interligada ao debate sobre a “internacionalização” da Amazônia, que nega a soberania do Brasil e outros países latino-americanos sobre a vasta floresta, rica em biodiversidade e minérios.
Petróleo
É ingenuidade imaginar, como fazem os analistas identificados com os interesses do imperialismo, que o propósito dos Estados Unidos é pacífico e generoso. Conforme destacou o presidente Hugo Cháves, a América Latina é rica em petróleo, gás e outros recursos minerais, que são fundamentais em tempos de crise energética e alimentar como o atual.
A iniciativa dos Estados Unidos também tem a ver com a ofensiva imperialista contra os governos progressistas da América do Sul, na qual se destaca a tentativa de partir a Bolívia de Evo Morales em pedaços, a invasão do território equatoriano pela Colômbia em março deste ano, a desestabilização do governo Cristina Kirchner na Argentina e reiteradas iniciativas golpistas na Venezuela. As forças e organizações progressistas e os patriotas que defendem a soberania nacional dos países latino-americanos devem se conscientizar da gravidade deste acontecimento e tomar iniciativas para denunciar os propósitos do imperialismo e defender o direito à autodeterminação das nações e os interesses dos povos que habitam a região. Vivemos um cenário político novo, de mudanças e transições, mas não devemos perder de vista a possibilidade de retrocesso.

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© 2008 Por Giovane D. Zuanazzi , Douglas T. Finger