Grécia rebelde: a revolta dos jovens se alastra

Se esta é a era da "midiatização" da vida quotidiana, assim como da política (e o é faz tempo), as últimas 24 horas na Grécia transmitem um péssimo sinal para o poder sobre a gravidade da revolta em curso – seu alcance e a profundidade do seu significado.


Por Anubis D'Avossa Lussurgiu, enviado a Atenas do diário italiano Liberazione*




Em Atenas, o tribunal rejeitou a tese da polícia, apoiada por baixo dos panos pelo ministro do Interior, sobre o assassinato do adolescente Alexis Grigoropoulos, na maldita noite de São Nicolau em Exarchia. A encenação dos dois tiros para o ar e o terceiro no chão, que desafortunadamente "ricocheteou", disparados pelo "suspeito Alfa" (um dos dois policiais envolvidos e preso, o que de fato usou a arma) foi desmentida pelo Ministério Público.


O Ministério deu razão aos pais de Alexis, que solicitam um processo por homicídio premeditado: sob esta acusação o "suspeito Alfa", foi formalmente acusado ontem. Isto na quarta-feira, após 12 horas da defesa e do governo martelando uma estória sobre fantasmagóricos testes balísticos que inocentariam o agente. Eis um só exemplo da verdadeira devastação em curso na Grécia: a queda da credibilidade dos atuais detentores do poder.


Outros exemplos, concretíssimos, surgiram ao longo do dia. Este foi pródigo em surpresas, todas arrasadoras máquina de propaganda e "filtragem" midiática, posta para trabalhar desesperadamente nos últimos dias visando delimitar, confinar, subverter a realidade da revolta grega.





Sigamos por ordem, a começar pelas primeiríssimas notícias da manhã. Fora veiculada, ecoando em todo o "main stream" internacional, a versão de que a revolta estava amainando. Depois, quando os sindicatos paralisaram o país em uma greve geral contra o governo, a "divisão do movimento" foi dada como um fato definitivo. O "violentos", "devastadores", os "encapuzados" (versão grega dos "todos negros", termo tão popular em Gênova, e depois em toda a Itália) já foram descritos como confinados apenas nas Escolas Politécnicas de Atenas e Salônica, rodeados por um pequeno número de estudantes transviados, alienados do universo e do senso comum.



Esta quinta-feira pós-greve desmentiu cada uma de tais descrições. Às 7 horas da manhã, em Atenas, na realidade, uma multidão de estudantes do ensino médio e até mais jovens amontoou-se em frente à principal prisão da capital, em Korydallos, um bairro periférico. É uma prisão que há meses, assiste a mobilizações dos presos contra as condições desumanas de superlotação, mais ainda que na Itália: dois domingos atrás começou ali uma dura greve da fome. Os adolescentes que se manifestaram ontem pela manhã em Korydallos assumiram também essa luta, como fizeram cinco dias atrás nas ruas do centro histórico, perto da Politécnica.


Com a superior insensatez dos imberbes, a tropa policial presente na prisão, que tentou intervir contra a concentração espontânea, foi atacada a pedradas por esses meninos de olhos em chamas, todos com os rostos descobertos. Não se dispersaram, mesmo quando começaram as prisões, as cargas, um violento espancamento de crianças, um deles registrado pela televisão. Só foram embora quando decidiram ir.


Isto depois de dias de bombardeio mídiático sobre a "destruição" e da ênfase dada pelo governo, na noite anterior, ao número de pessoas presas até o momento: 200 no país, pouco mais de 100 em Atenas, passíveis de indiciamento em acusações de "terrorismo", como se denomina na Grécia o equivalente de "devastação e saque".

Mas o que aconteceu em Korydallos foi só a primeira revelação: ao longo do dia não era possível ocultar o envolvimento dos secundaristas. Aconteceram protestos em inúmeros pontos na capital, desde Glyfada, subúrbio marítimo na costa sul, até Aghiu Dimitriu, onde a prefeitura local foi ocupada. Os ataques com pedras foram dezenas.
Estas notícias, lentamente, foram pavimentando uma outra, já anunciada pelos episódios da véspera – a greve geral e a enorme participação de secundaristas na manifestação e nos confrontos em torno do Ministério do Interior, em Atenas: pelo menos 80 colégios da capital foram ocupados pelos alunos, outros 120 (mais uma vez, pelo menos) no resto da Grécia.


Em Patras, onde dois dias antes tinha se testado o primeiro ensaio de convergência de esquadrões fascistas com policiais, no ataque a manifestações, ontem saíram às ruas mais de 500 jovens a gritar o brado que ainda ecoa em todas as ruas da revolta: "To ema kyllai ke dykisi sizai" ("O sangue (de Alexis) corre e pede vingança").


Em Salônica o cortejo, aberto pelos ocupantes da Escola de Teatro da Universidade, atraiu milhares de secundaristas, universitários, jovens em situação de risco e trabalhadores não qualificados na cidade.


Em Komotini, na Trácia, a Politécnica foi ocupada, recebendo reforço dos estudantes da cidade vizinha de Xhanti: aqui o casamento fascistas-polícia foi confirmado pelo ataque a uma concentração fora da Universidade, que resultou em um verdadeiro cerco, usando jatos d'água para dispersar os jovens. Quem fez o trabalho, dessa vez, foram os nazistas da Golden Dawn: os mesmos neonazis que no início da noite de 3 de setembro, esfaquearam em Atenas dois estudantes albaneses durante uma interminável batalha que começou ao cair do sol: o episódio, devido à proveniência das vítimas, foi solenemente ignorado pelos meios de comunicação oficiais gregos.


A propagação da revolta foi sempre mais ampla do que aquilo que conseguia penetrar na malha da mídia ontem. Em Creta, tinham dito que voltara a "calma" depois dos primeiros dias de manifestações contra o assassinato estatal. Bem, ontem a notícia era que todas as escolas de Iraklion [a maior cidade cretense]estavam ocupadas. E manifestações, confrontos com a polícia, ocupações se repetiram em toda a Grécia, desde as regiões ao norte da Ática até as ilhas Jônicas. O que só fez alimentar e estimular o protagonismo das rebeliões em Atenas e Salônica.


Só na manhã de quinta-feira, 22 delegacias de polícia foram atacadas com coquetéis molotov, em todas as áreas da capital. Em Salônica as manifestações espontâneas e confrontos com a polícia se repetiram, enquanto em Atenas ocorreram duas passeatas.


fonte: www.liberazione.it/

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