Aldo Rebelo: ''Serra perdeu o rumo e foi injusto''





O candidato a vice-prefeito de São Paulo, na chapa de Marta Suplicy (PT), Aldo Rebelo (PCdoB), criticou a postura do governador José Serra de creditar a greve da polícia civil ao movimento eleitoreiro. ''O Serra perdeu o rumo. Ele foi injusto e não honrou a sua tradição democrática'', disse Aldo, referindo-se às declarações dadas pelo governador do Estado, José Serra (PSDB), ontem à noite, sobre o conflito ocorrido entre a Polícia Civil e a Polícia Militar.


Segundo o candidato, o movimento da polícia civil é porque o salário em São Paulo é incompatível com o do restante da categoria no país. Aldo ressalta que esse é o grande problema da questão e que deve ficar bem claro.
Ontem, policiais civis em greve desde 16 de setembro realizavam uma passeata quando entraram em confronto com policiais militares em São Paulo. O conflito ocorreu quando os manifestantes teriam tentado furar um bloqueio da PM em um área de segurança do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Policiais militares chegaram a utilizar bombas de gás e efetuar tiros com balas de borracha. 32 pessoas ficaram feridas.
O governador José Serra associou o protesto a entidades sindicalistas e disse que a manifestação tem cunho ''político-eleitoral''. Só não explicou como pode ter cunho eleitoral uma reivindicação que envolve questões estaduais se as eleições são municipais.
''O discurso utilizado pelo Serra foi o mesmo que era utilizado contra ele, Serra, quando era estudante e deputado e que apoiava movimentos sociais'', declarou, durante um encontro, no final da manhã, promovido entre a candidatura petista e um grupo de taxistas paulistanos, na Vila Clementino, zona Sul. O grupo, que declarou apoio a Marta, contrariou a posição do sindicato da categoria, que não declarou apoio oficial a nenhum dos candidatos na disputa do segundo turno.
O governador José Serra, visivelmente irritado, respondeu à critica dizendo que o deputado comunista ''perdeu uma ótima oportunidade de não dizer uma besteira''. ''Ele, que tão poucas besteiras diz na vida, agora resolveu inaugurar uma de grande tamanho'', disse o governador.
Mas se o irritado governador resolver responder a todos que o criticam, não fará outra coisa nos próximos dias. Isso porque não foi apenas o deputado Aldo Rebelo quem condenou a estratégia do governador tucano de tentar eleitoralizar o episódio. Dezenas de outras lideranças políticas, sindicais, intelectuais, jornalistas e juristas, criticaram o discurso do governador paulista. Não surgiu, até agora, nenhuma voz independente que avalisasse a tese de Serra de ''conspiração'' eleitoral.



Paralisação nacional



O presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo (Sipesp), João Batista Rebouças, ao lado do presidente da Federação das Polícias do Brasil, Paulo Martins, e do deputado federal Paulinho da Força (PDT), não apenas criticou Serra como adiantou que irá haver uma manifestação de greve 24 horas da Polícia Civil em todo o Brasil em repúdio ao governador e em solidariedade aos policiais paulistas. Segundo as entidades, a data da paralisação nacional será no dia 29 de outubro.
''Não somos inimigos da PM, nosso inimigo chama-se José Serra. A Polícia Civil não tem mais nada a perder'', disse Rebouças sobre o episódio.
''Quem pretende ser presidente da República não pode agir dessa maneira'', completou o presidente do Sipesp.



Serra na berlinda mesmo com ''imprensa amiga''


O jornalista Ricardo Kotscho escreveu em seu blog no portal iG que ''pela primeira vez desde que tomou posse, parece que os fatos estão fugindo ao controle do governador José Serra. A crise na segurança pública em São Paulo, que culminou ontem no confronto entre grevistas da Polícia Civil e tropas da Polícia Militar às portas do Palácio dos Bandeirantes, deixando mais de 20 feridos, invadiu o noticiário nacional e atravessou as fronteiras do Estado, apesar de toda a boa vontade da imprensa amiga.''
Segundo ele, ''Serra está no centro do fogo cruzado da crise na área de segurança pública, que se arrasta praticamente desde o início do seu governo, sem que se tenha avançado um milímentro no rumo de uma solução''.



Incapacidade administrativa



A candidata à prefeitura de São Paulo pelo PT, Marta Suplicy, também se pronunciou sobre o assunto, já que Serra, nas entrelinhas, insinuou que o conflito foi promovido para prejudicar o adversário de Marta, Gilberto Kassab (DEM).
A petista repudiou as acusações do governador de que o conflito teria ''motivações políticas''. ''É uma incapacidade, uma intransigência por parte de quem governa'', atacou Marta. ''Querer culpar um partido político por uma incapacidade de negociação, eu não esperava essa postura do governador.''
''Agora nós estamos na véspera de uma eleição. Eu fico pasma de o governador fazer insinuações deste porte. É muito sério o que ele fez'', disse. ''Pessoas ligadas à CUT e à Força Sindical estarem presentes no momento da sua negociação salarial me parece, o mínimo, que uma pessoa que entende de democracia, de negociação, possa saber que deveria estar acontecendo.''

Durante evento eleitoral em Mauá, no ABC paulista, o senador Eduardo Suplicy também criticou a atitude do governador José Serra. O senador acusou o governador de ter incentivado a guerra entre as forças policiais. ''Cheguei de Brasília e fui direito ao Palácio dos Bandeirantes para saber o que estava acontecendo. Levei um susto. Temos que dialogar para que as forças policiais não iniciem uma guerra. O Serra tem o dever de resolver este impasse. A Polícia Militar e Polícia Civil precisam trabalhar em harmonia'', opinou Suplicy.




Força: Serra é intransigente



O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força Sindical, divulgou nota assinada também pelo secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. O documento ''repudia com veemência o tratamento dispensado pelo governador José Serra aos policiais civis''.
No comunicado, a Força Sindical destaca: ''É intolerável que um governador eleito democraticamente utilize métodos truculentos contra servidores em luta. Demandamos que o Governo do Estado retome o caminho da negociação e atenda as justas reivindicações dos policiais civis, pois valorizar a função e a carreira do policial é parte fundamental de uma política de segurança pública democrática e eficiente.''
Em declaração à imprensa, Juruna foi ainda mais duro: ''O governador está transformando um confronto trabalhista em um confronto político-partidário'', disse o sindicalista. Para Juruna, Serra ''é intransigente, precisa assumir sua responsabilidade e não desviar do assunto...o Serra quer é ajudar o Kassab'', disse.
Juruna afirma que tentou negociar com o secretário da Casa Civil do Estado, Aloysio Nunes Ferreira, uma saída pacífica para os pedidos dos policiais. O dirigente sindical diz que o governo do Estado se recusou. Segundo Juruna, o máximo consentido pelos representantes do governo foi estabelecer limites para a manifestação dos policiais. ''Serra está tentando justificar sua intransigência, jogando o confronto para o campo político e eleitoral, o que é um erro'', concluiu Juruna.


CUT: comportamento irresponsável do governador


A CUT, outra central citada por Serra, também protestou. De acordo com o secretário geral da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, ''o comportamento irresponsável do governador José Serra e do secretário estadual de Segurança Pública por pouco não provocaram mortes''. ''Por um lado, provocaram a categoria dos Policiais Civis em greve ao abandonar a segurança pública, não dar as mínimas condições de trabalho, manter equipamentos defasados, salários arrochados e, pior, não atender solicitações, se negar a negociar e ainda criticar o comportamento de quem tem preocupação com a segurança dos cidadãos'', denunciou Adi.
''Serra não quer diálogo, somente imposição. Eu vi uma guerra civil, o conflito quase gerou mortes na porta do Palácio'', ressaltou Adi. epresentantes de seis centrais sindicais acompanharam o protesto e repudiaram a covardia de Serra. Agora, lembrou Adi, ''a mobilização vai crescer ainda mais, porque ninguém vai baixar a cabeça para este tipo de comportamento''.


Lula: situação deplorável



Devido à repercussão internacional do episódio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também opinou sobre o confronto policial. ''É uma coisa deplorável que aconteça esse conflito. Porque são dois órgãos importantes do Estado e que, portanto, não deveriam estar em conflito'', disse Lula em entrevista concedida antes da cerimônia de inauguração de instalações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Maputo, em Moçambique.
O presidente disse que sabia que o problema começou com a reivindicação salarial da polícia civil, que está em greve. ''Eu não sei qual é o problema. Eu sei que tem um problema de reivindicação. Houve um conflito.''

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