Mídia retrata a grande confusão ideológica nos EUA diante da crise


Uma edição de fevereiro deste ano da revista Newsweek – semanário americano que foi a matriz editorial da revista brasileira Veja – traz a referência mais nítida da tremenda confusão ideológica que se estabeleceu nos Estados Unidos desde as eleições presidenciais de novembro do ano passado. Por Pedro de Oliveira

A edição cuja capa é reproduzida acima tem a seguinte manchete: We are all socialists now (Agora somos todos socialistas!). A linha fina que vem logo embaixo do título diz o seguinte: “The perils and promise of the new era of big government” (Os perigos e as promessas da nova era do Grande Estado), e que foi logo imitada pela sua “cópia” brasileira, a revista Veja que, na edição de 18 de março de 2009 trouxe uma capa onde a imagem do presidente Barack Obama imita uma pose do dirigente russo Vladimir Lênin em um quadro típico do realismo socialista, e a manchete diz “Camarada Obama”, tendo ao fundo uma foice e martelo numa bandeira vermelha.


Na Newsweek o texto que procura dar sustentação à reportagem de capa analisa os últimos acontecimentos e as medidas tomadas pelo governo de Barack Obama contra a crise econômica e financeira que teve origem no sistema de créditos podres nos EUA.


“Queiramos ou não, a América de 2009 está se transformando em um moderno estado europeu”, diz, explicando que os EUA continua sendo “uma nação de centro-direita de muitas maneiras, particularmente na esfera cultural (...) – mas objetivamente nacionalizamos boa parte do sistema bancário e da indústria de imóveis residenciais – o que é um sinal fortíssimo de socialismo...”


A revista britânica The Economist, em agosto de 2007, já havia estampado uma manchete interrogativa: “Será que a América está dando uma guinada à esquerda?”. Naquela edição o editorial da Economist acusava o então presidente George W. Bush de responsável por uma possível vitória democrata nas eleições que viriam a acontecer em novembro de 2008. E com os democratas, mesmo que a eleição sinalizasse à esquerda, continuaria a ser uma força eminentemente conservadora, principalmente em termos de política externa.


Os líderes do Partido Republicano desorientados pelas medidas reformistas de Barack Obama – e pela profundidade de algumas delas – tornou-se incapaz de oferecer uma resposta eficaz e de apresentar uma liderança conservadora que pudesse se apresentar como oposição ao atual Governo dos Estados Unidos.


Um radialista americano de extrema direita, ouvido diariamente por um público formado por mais de 13 milhões de ouvintes, Rush Limbaugh, participou ativamente da última Conferência de Ação Política Conservadora, ocorrida em Washington no começo de março, e sintetizou suas preocupações torcendo pelo fracasso do governo Barack Obama. “Claro, quero que fracasse”, sustentou. “Como não iria querer que fracasse uma política que pretende acabar com o capitalismo e com a liberdade, as idéias que sustentam a América?!”.


“Lênin e Stalin estariam felizes com o que está acontecendo”, declarou durante a reunião o ex-candidato a presidente conservador Mike Huckabee. Já o senador Jim Demint, referindo-se a um pronunciamento de Obama no Congresso, disse que “no começo da semana escutei o melhor vendedor de socialismo do mundo dirigindo-se à Nação”...


Ou seja, a confusão é grande! O fato é que a política imaginada por Barack Obama em seu início de governo, de tornar sua gestão uma administração bipartidária, foi por água a baixo. Segundo um editorial do insuspeito Wall Street Journal, o diário ligado à alta finança dos EUA, o que o presidente almeja mesmo não é apenas ganhar alguns votos de republicanos para aplicar sua política para conter a crise econômica: “O que ele quer é mover a política norte-americana para a esquerda”.


O texto se refere também ao período da presidência de Ronald Reagan – como se fosse o antípoda de Obama -- argumentado que naquela época o ex-ator de cinema havia capitaneado uma virada à direita. Foi o que se viu nos dois governos de Bush, quando os EUA conheceram a aplicação em toda a linha do que ficou conhecido como ultradireita. Agora, quando a orientação do governo democrata tenta voltar-se para o centro, os direitistas de todos os matizes procuram rotulá-lo de “esquerda”, de “socialista”, quando se sabe que os EUA são ainda a fonte maior de capitalismo no mundo e de sua expressão mais acabada que é o imperialismo.

Pedro de Oliveira é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB



Fonte: Vermelho

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