Os pilares e a coluna mestra do Governo Lula

Diante da queda do Presidente Lula nas pesquisas de popularidade, podemos observar a influência que a crise poderá trazer às eleições de 2010. Partindo desse ponto estaremos trazendo mais freqüentemente para o blog as opiniões de uma série de intelectuais que procuram analisar o tema. Segue a ótima avaliação do Antônio Augusto de Queiroz em sua coluna do Vermelho.

O Governo do Presidente Lula, ao longo dos últimos seis anos, passou por grandes crises políticas e por escândalos que derrubariam qualquer governante, mas superou todas, tendo sido reeleito em meio à denúncia do chamado ''mensalão''. Sua popularidade e capital político, mesmo com oscilações, sempre foram altos comparativamente com FHC.

O carisma de Lula, seus programas sociais e a identidade que mantém com os mais humildes são pilares importantes que lhe dão sustentação, mas a coluna vertebral do Governo foi, é e, dependendo da superação da crise, continuará sendo a economia, que nesses seis anos cresceu com democracia, estabilidade de preços (inflação sob controle), distribuição de renda e geração de emprego.
As crises políticas, que foram muitas nesse período, não foram capazes de interromper a trajetória vitoriosa do Governo na área social e na economia, mas uma crise econômica de longa duração, com recessão e desemprego, mesmo que não tenha sido originada no Brasil, poderá abalar os demais pilares de sustentação do presidente.

O Governo sabe disso e não é por outra razão que o presidente tem dito que a crise foi gerada nos países centrais (Estados Unidos e Europa) e tem feito um esforço reconhecido por todos para aquecer a economia brasileira, com liberação de linhas de crédito, manutenção e ampliação dos programas do PAC, criação de programas habitacionais e preservação dos programas sociais, como o Bolsa Família e os ganhos reais do salário mínimo.

O Brasil, ninguém nega isto, está em melhor situação do que outros países nessa crise mundial – que se iniciou no sistema financeiro, e atingiu a economia real de modo sistêmico – porque no momento de sua eclosão estava com o sistema financeiro saneado, tinha e têm elevadas reservas cambiais, sua economia estava em franca expansão, o Governo gastava menos do que arrecadava (superávit primário) e a inflação e o câmbio estavam sob controle.

Esta constatação louvável, entretanto, não é garantia de que o Governo Lula, mesmo que o País tenha sido o último a sentir os efeitos da crise e eventualmente seja o primeiro a sair dela, sairá fortalecido desse processo. As mazelas dos outros não diminui as nossas, ainda que as nossas sejam menos intensas.

Aliás, a queda de popularidade do presidente já é reflexo da desaceleração da economia, com redução da produção e aumento de demissões, apesar das medidas governamentais adotadas, sobretudo a liberação de crédito e desoneração do setor produtivo, com isenções e renúncias fiscais de grandes proporções, e, mais tardiamente, a redução gradual das taxas de juros.

Estes comentários são apenas para dizer que o momento é delicado e o julgamento que a população fará do presidente Lula dependerá do resultado da crise, portanto do desempenho da economia, tenha ou não o Governo brasileiro responsabilidade pelo seu surgimento e duração. A popularidade do Governo será inversamente proporcional à intensidade da crise. Quando mais intensa for, menor será a popularidade do Governo.

Isto significa que a capacidade do presidente de fazer seu sucessor, mediante a transferência de votos, depende da avaliação de seu Governo, que por sua vez depende do resultado da crise. Os programas sociais ajudam, mas eles, em grande medida, dependem do desempenho da economia, que deverá ser sólida o suficiente para que o Governo possa se apropriar do excedente por meio de cobrança de tributos.

Em conclusão, pode-se a firmar que a economia é a variável-chave da legitimidade e popularidade dos governantes. Se a economia vai bem, o governo é bem avaliado. Portanto, nesta conjuntura, será o resultado da crise que dirá se o presidente continuará muito popular e com capacidade de fazer seu sucessor ou se concluirá sua gestão enfraquecido e sem a capacidade de eleger o sucessor.


Antônio Augusto de Queiroz, Jornalista


Fonte: Vermelho

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